Editorial
do The Guardian – 02/08/2019
A
visão do The Guardian sobre o desmatamento da Amazônia: a Europa
deve agir para prevenir o desastre
Precisamos de florestas tropicais para limitar as mudanças climáticas, assim como proteger a biodiversidade, e devemos fazer tudo o que pudermos para apoiar a conservação brasileira.
"Se nós
reivindicarmos esta selva tropical como um pulmão verde para o
mundo, não podemos esperar que o Brasil a conserve sozinha."
Precisamos de florestas tropicais para limitar as mudanças climáticas, assim como proteger a biodiversidade, e devemos fazer tudo o que pudermos para apoiar a conservação brasileira.
Se houver um
vislumbre de luz em meio à escuridão dos relatórios recentes da
Amazônia brasileira, onde o desmatamento está se acelerando junto
com as ameaças aos povos indígenas que vivem lá, isso poderia
estar no poder crescente da diplomacia climática, combinado com uma
maior compreensão do papel crucial desempenhado pelas florestas no
sistema climático do nosso planeta. O acordo firmado há um mês
entre a UE e o bloco do Mercosul no Brasil, Argentina, Paraguai e
Uruguai (a Venezuela está suspensa) aumenta a alavancagem europeia
com seus parceiros comerciais sul-americanos. O prêmio de acesso aos
mercados da UE já é creditado por ter convencido o Brasil a não
seguir a liderança de Donald Trump, retirando-se do acordo climático
de Paris. Agora, a UE deve reforçar seus compromissos ambientais,
como exigiu uma carta de 600 cientistas antes do acordo ser firmado.
O presidente do
Brasil, Jair Bolsonaro, não fez segredo de seus planos para promover
o desenvolvimento e obteve apoio poderoso dos interesses de
agronegócios e mineração do Brasil antes da eleição do ano
passado. Ele despreza a conservação e os direitos indígenas,
alegando recentemente que seus oponentes estrangeiros querem que as
tribos da Amazônia vivam “como homens das cavernas”. Os dados
dos satélites mostram que a mensagem está chegando, com as
liberações aumentando acentuadamente e este mês definido como o
primeiro em cinco anos em que o Brasil perdeu uma área de floresta
maior do que a Grande Londres. A mineração de ouro ilegal também
está se espalhando. Na semana passada, uma das lideranças do povo
Waiãpi, Emyra Waiãpi, foi encontrada esfaqueada até a morte em uma
reserva remota no estado do Amapá, depois que homens armados
invadiram sua aldeia.
A situação é de
importância crítica, e ainda mais preocupante dadas as recentes
projeções climáticas. Proteger a maior floresta tropical do mundo,
supostamente com 30% de todas as espécies, tem sido justamente um
foco importante para as políticas ambientais brasileiras e globais
há duas décadas. Mas menos de um ano após a eleição de
Bolsonaro, a agência ambiental nacional parece significativamente
enfraquecida, com ações de fiscalização no primeiro semestre de
2019 caindo 20% em relação ao mesmo período de 2018. Promotores e
ativistas foram intimidados, enquanto a opinião pública está mais
engajada noutras partes (por exemplo, nas reformas das pensões).
O argumento de
Bolsonaro para o público interno e estrangeiro é o mesmo: a
Amazônia brasileira não é da conta de ninguém, mas do Brasil. Com
isso em mente, os defensores internacionais da floresta devem agir
com cautela. As denúncias das políticas pró-empresariais do novo
governo em nome da biodiversidade podem ser contraproducentes. Em vez
disso, ambientalistas, incluindo políticos verdes, deveriam
trabalhar através de instituições políticas européias, sabendo
que a UE é o segundo maior mercado para as exportações
brasileiras. A pressão firme deve ser exercida sob a forma de fortes
regulamentações ambientais e uma recusa em comprometer a
transparência. A carne de vaca ou soja cultivada em terras
ilegalmente desmatadas não deve ser importada para a Europa.
Ao mesmo tempo, as
organizações da sociedade civil brasileira precisam de apoio para
desafiar e resistir a incursões ilegais e para defender os
compromissos existentes em seu país - incluindo o reflorestamento de
áreas desmatadas. A educação climática deve ser promovida
globalmente, para que as pessoas possam entender melhor o que está
acontecendo (o assassinato de um jornalista ligado à exploração de
florestas tropicais já é tema de um drama na TV brasileira). As
liberações florestais podem produzir ganhos de curto prazo, mas no
longo prazo elas só podem trazer desastre. O Brasil está em uma
posição forte, na próxima rodada de negociações climáticas da
ONU (transferida para o Chile depois que Bolsonaro retirou uma oferta
para sediar), para exigir o aumento da ajuda internacional para a
vasta região amazônica. Se nós reivindicarmos esta selva
tropical como um pulmão verde para o mundo, não podemos esperar que
o Brasil a conserve sozinha.
Conforme a crise
aumenta ...
… Em nosso mundo
natural, nos recusamos a nos afastar da catástrofe climática e da
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