Heitor Villa-Lobos: Mistério de 120 anos
Até hoje, estudiosos não chegaram a um acordo sobre o que é verdade e o que é mito sobre a vida de Villa-Lobos, o maior compositor brasileiro
Jeanne Callegari | 01/03/2007 00h00
Heitor Villa-Lobos, o maior compositor brasileiro da história,
nasceu há exatos 120 anos. Muito já foi escrito, ouvido e comentado a
seu respeito. O que intriga, porém, é o que não foi dito: mais de um
século após seu nascimento, a vida do gênio continua cercada de um tanto
de mistério.A começar pelas famosas viagens que o maestro fez pelo interior do Brasil – de onde tirou inspiração para desenvolver o nacionalismo presente em sua música, traço pelo qual ficou tão conhecido. Parece ter havido certo exagero dele ao relatar suas expedições pelos rincões do país. “Só a primeira viagem à Amazônia, de 1911, está confirmada. Villa estava com uma companhia de operetas como violoncelista. As demais são duvidosas e tudo indica que ele personalizou aventuras contadas por seu cunhado, que trabalhou no projeto Rondon”, diz Vasco Mariz, musicólogo e diplomata, autor do livro Villa-Lobos – O Homem e a Obra.
Aliás, as pesquisas de Vasco Mariz solucionaram um dos episódios mais míticos da vida do maestro. Corria que ele havia inventado para a imprensa francesa, em 1929, uma história de que teria sido seqüestrado por índios canibais brasileiros e só escapara da panela por causa de sua música. Na verdade, diz Mariz, quem inventou a história foi uma amiga dele, a poetisa francesa Lucie Delarue Mardus, que a publicou na revista Instransigeant. E conseguiu o que queria: fazer lotar o concerto do músico.
Se, porém, algumas de suas viagens e histórias foram romanceadas, as pesquisas que fez dos sons da natureza, do folclore e da música popular foram, de fato, fundamentais para sua obra. “Villa-Lobos introduziu os sons do Brasil na música, assim como Guimarães Rosa introduziu em sua escrita o falar das Gerais”, diz Maria Maia, autora de Villa-Lobos – Alma Brasileira. Para o maestro, as ousadias formais e as inovações técnicas que introduziu eram não resultado de um modismo, mas a melhor maneira de retratar a exuberância da natureza e do povo brasileiro. Antes dele, era considerado desprezível aproveitar o folclore na música erudita brasileira, segundo Vasco Mariz.
Nascido no Rio de Janeiro, Villa-Lobos aprendeu violoncelo e clarinete com o pai, que tocava em grupos amadores de música clássica. Em viagem pelo interior de Minas, onde a família morou quando tinha 6 anos, o menino aprendeu a gostar da música rural, sertaneja, e seu interesse aumentou ao observar o choro dos bares cariocas. Para tocar aquelas canções, Villa-Lobos resolveu aprender violão, mas teve que estudar escondido: os pais não aprovavam seu envolvimento com a música popular da boemia carioca. Era dotado de um ouvido musical privilegiado. Conseguia, por exemplo, compor, ouvir rádio e conversar, tudo ao mesmo tempo. E chamava esse dom de “ouvido profundo”.
Depois das viagens que fez ao interior, Villa-Lobos começou a incorporar os elementos nacionais às suas composições. O sentimento nacionalista se fortaleceu ainda mais durante a Semana de Arte Moderna de 1922, de que participou ativamente – detalhe: de terno e chinelo de dedo, por causa de uma crise de ácido úrico nos dedos do pé.
A partir daí, o sotaque brasileiro de sua obra ficou cada vez mais nítido. Comparado aos maiores nomes da história, como Wagner, Bach e Chopin, o brasileiro foi, e continua sendo, um dos compositores contemporâneos mais gravados lá fora. Ironicamente, quanto mais nacional sua arte ficava, mais se universalizava e conquistava o mundo. Como é típico dos gênios.
O maestro educador
Ele lutou pelo ensino de música nas escolas
Cinco de março, data de nascimento de Heitor Villa-Lobos, virou o Dia Nacional da Música Clássica no país. Uma homenagem ao homem que desenvolveu o maior projeto de educação musical do Brasil. Mais do que formar talentos, a idéia do maestro era despertar o interesse pela música erudita. O primeiro trabalho foi feito com o governo do estado de São Paulo, no início dos anos 30. Villa-Lobos, que residira um tempo na França, desistiu de seu plano original de voltar à Europa porque queria cuidar do projeto. Em seguida, foi ao Rio de Janeiro, onde coordenou a implantação da educação musical nos colégios. Nessa época, desenvolveu o seu Guia Prático, coleção de livros para o ensino de música. Villa-Lobos acreditava que, antes de estudar teoria, as crianças deviam dominar noções de ritmo, som e timbre. Seu método foi bem aceito e o maestro contiunou o trabalho, criando o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, em 1942, e dirigindo apresentações, como a de 40 mil estudantes no 7 de Setembro de 1940. Um dia após a morte do maestro, em 1959, o canto deixou de ser obrigatório nas escolas. Hoje, poucos colégios têm a música no currículo.Obtido de: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/heitor-villa-lobos-misterio-120-anos-435124.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_avhistoria
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